O Flamengo precisa ser devolvido a seus “donos”
Prometi que não falaria mais sobre isso. Mas eu me perdôo e vou voltar, a causa é nobre, e não me alongarei demais. O assunto é o valor dos ingressos para a decisão da Copa do Brasil, dia 27 de novembro, no Maracanã, entre Flamengo e Atlético-PR. O ingresso mais barato para quem não é sócio-torcedor custará R$ 250, mais caro do que o mais barato da final da Copa das Confederações, da qual participaram Casillas, Piqué, Xabi, Iniesta, Daniel Alves, Tiago Silva, Oscar, Fred e Neymar. No do dia 27 teremos Amaral, Luiz Antônio, Carlos Eduardo e mais alguns não tão famosos do time visitante
Quem for sócio-torcedor, nas costas de quem a diretoria do Flamengo joga todas as justificativas para o escândalo do preço do ingresso, pagará R$ 125. Perdoem-me os diletos comandantes do clube, mas mesmo para sócios-torcedores o valor de R$ 125 é inaceitável em se tratando do menor preço.
Para quem acompanha o futebol desde que nasceu e, pela paixão por esse esporte, pode dizer que conhece um pouco da cultura dos principais times do Brasil, o que soa inteiramente fora de sintonia, mais do que a ganância, é a total ausência de sintonia entre como a diretoria do Flamengo se vê e vê o clube e o que o Rubro-Negro realmente é, histórica e culturalmente, enquanto maior fenômeno popular do esporte do nosso país.
Já disse aqui várias vezes. O Flamengo poderia reservar camarotes e setores mais nobres do estádio e vender esses bilhetes a R$ 1 mil se quisesse. Provavelmente seriam vendidos, se não todos, mas grande parte. Quem é rico também ama o Flamengo e não abandonaria o clube numa hora dessas. Com isso seria possível destinar 10% dos ingressos a quem construiu a grandeza do clube, o torcedor mais humilde, que poderia pagar algo entre R$ 40 até R$ 80. A arrecadação não mudaria significativamente.
O que os responsáveis pela elaboração de preços fazem é buscar a mesma arrecadação selecionando classes sociais. Isso seria digno de crítica em qualquer caso, mas de maneira mais gritante em clubes de massa como Flamengo e Corinthians. É querer ser o que não é. É virar as costas para uma parcela que, no mínimo em quantidade, é totalmente relevante na história do clube. É pagar com arrogância e ganância a quem, de fato, levou o limitado time do Flamengo à final, notadamente nos jogos contra Cruzeiro, Botafogo e Goiás, times que num campeonato de regularidade, que premia a competência, estão bem à frente do Rubro-Negro. Contra esses rivais, quando precisou da torcida, barateou os ingressos. Agora, que já sente o cheiro da taça, tira os pobres da sala de jantar.
Para concluir: tenho total respeito, como jornalista e como pessoa física, à diretoria do Flamengo. Reconheço e aplaudo, nas duas condições também, as várias coisas boas que têm feito. Tipo: o esforço para sanear as finanças, a seriedade e trabsparência da administração, a humildade em corrigir os rumos como na equivocada opção por Jorginho e na efetivação deste incrível Jayme de Almeida, na aposta em Hernane, Wallace, Elias e Paulinho – apesar dos equívocos fenomenais como Carlos Eduardo.
Não é preciso, portanto, grande esforço para que essa direção tenha o pleno reconhecimento de todos, e até entrar para história do clube por uma gestão que fez bem ao Flamengo. Basta que ela desça do pedestal em que subiu, que abaixe um pouquinho o olhar - e o nariz – para ver com mais clareza quem são os verdadeiros donos do Flamengo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário